Ekah suddhah svayam-jyotir
Nirguno sal gunasrayah
Sarva go navrtah saksi
Niratmatmatmanah parah
(Srimad-Bhagavatam 4.20.7)
Existe uma alma Suprema. Ele é puro, não-material e auto-manifesto. Ele é o reservatório de todas as boas qualidades e é auto-penetrante. Ele não possui coberturas materiais e é o testemunho de todas atividades. Ele é completamente distinto das outras entidades vivas e é transcendental à todas as almas condicionadas.
Este verso descreve as qualidades da Suprema Personalidade de Deus e então aponta várias diferenças entre ele e a alma individual. Alguns dizem que todas as entidades vivas são Deus, e os que acreditam nisto interpretam de maneira errônea o aforismo védico ‘tat tvam asi’ como ‘voçê é o Deus impessoal’. O significado correto seria: ‘a entidade viva é uma partícula espiritual do espírito supremo’. Também no aforismo ‘aham brahmasmi’ que significa ‘Eu não sou este corpo, sou uma alma espiritual’, eles interpretam como ‘Sou aquele espírito supremo, sou brahma’.
O líder desta doutrina, Sankaracharya, é uma encarnação de Sankara, Shiva. Ele era muito inteligente. Apesar de ser o líder do caminho impessoal, seu verdadeiro intuíto era satisfazer Sri Krishna. Krishna instruiu Shankara: “Vá ao mundo material e me esconda de todos aqueles que se opõe à minha devoção pura, aqueles que me servem e me adoram com o desejo de tornar-se poderoso como os demônios Ravana e Hiranyakashipu. Estes falsos devotos irão criar perturbações, então mantenha-nos longe de mim. Vá e iluda eles impartindo errôneas interpretações dos Vedas. Diga a eles:’Porque estão adorando Krishna? Vocês são Deus em todos os aspectos. Somos todos um com o Deus impessoal’”.
Assim, o impersonalismo não é a idéia do significado dos Vedas. Na verdade, nós não somos Deus, nem tampouco Deus é impessoal. Ele é uma pessoa, e nós somos Suas partes e parcelas, Seus eternos servos. A Suprema Personalidade de Deus é apenas Um sem um segundo, enquanto que as entidades vivas são inúmeras.
Considere esta distinção primária: a alma individual não se faz presente em um objeto como um microfone, mas o Paramatma, a forma de Sri Krishna como a Superalma, está presente ali. Nada neste mundo existe sem a presença do Paramatma.
Há duas almas dentro de cada corpo – a infinitesimal entidade viva (jiva - alma) e a manifestação de Deus – Paramatma. A jiva enredada nas atividades fruitivas (karma), tenta saborear os frutos do seu esforço. O Deus Supremo não é uma alma condicionada e também não está enamorado pela energia material. Ele é simplesmente aquele que testemunha as ações da jiva, situando-se no coração da mesma.
O Senhor supremo é eternamente puro, e maya, ou ilusão, está bem longe Dele e de Sua morada.Maya não pode atrair Deus, mas a jiva, sendo diminuta, pode atrair-se por maya a qualquer momento. Sri Krishna é sempre puro e auto-iluminado, enquanto que a jiva está sujeita á ser influenciada pela escuridão da ilusão e assim pode vir a ser coberta pela identidade errônea da identificação corpórea.
Krishna aparece pessoalmente na sua mais linda forma como Vrajendra-nandana, o filho de Nanda Maharaj, para aqueles que performam bhajan, meditação devocional e serviço á ele. Para aqueles que servem Deus na sua opulenta forma de quatro braços como Vaikuntha Narayana, Ele aparece como O Senhor Narayana. Aqui neste mundo ele reside como a testemunha situada no coração de toda entidade viva (incluindo animais, vegetais, insetos, etc...) como também em todo e qualquer átomo, como Paramatma. Deus manifesta uma ilimitada multi-diversidade de formas e energias, enquanto que a jiva é bem limitada, localizada e diminuta.
Sri Krishna é a eterna Verdade Absoluta. Katha Upanisad (2.2.13) diz: “nityo nityanam cetanas cetananam - das entidades vivas, Ele é a Suprema Entidade Viva e dentre tudo que é eterno, Ele é o Eterno Supremo”. Ainda que a jiva seja conhecida como sendo parte e parcela separada de Krishna, na verdade ela não separada. A jiva não pussui existência separada de Krishna e sempre será subordinada a Ele, tanto neste mundo, quanto no mundo espiritual.
Krishna está livre de qualidades materiais e ao mesmo tempo possui todas as qualidades transcendentais. As jivas podem ter as mesmas qualidades de Sri Krishna, quando pela graça de Deus e de Sri Guru, ela realiza sua natureza eterna de subordinação a ele.
Uma vez, o grande santo Vidura foi até Badrikasram nos Himalayas encontrar-se com Maitreya Rsi, um erudito sábio e recipiente da misericórdia de Sri Krishna. Vidura aproximou de Maitreya Rsi e perguntou: “É incrível! A jiva mesmo sendo uma entidade consciente que está sempre conectada com o Deus Supremo em sua forma como Super-alma, ainda sim continua iludida por maya. Como isto é possível?”
Maitreya Rsi respondeu: “Vou lhe dizer brevemente a única razão disto. Sri Krishna é possuidor de um poder inconcebível conhecido como aghatana-ghatana-patiyasi-sakti, o poder que faz o impossível se tornar possível. É este poder que retira a misericórdia de Krishna para com a jiva que escolhe Lhe dar as costas. Assim este poder faz com que a jiva se torne uma alma condicionada.”
Considere que maya é também uma das potências de Krishna e por isto não pode fazer qualquer coisa que vai de encontro ao Seu desejo. Certamente então, Krishna é a causa da ação de maya. Por que então, Krishna criou tal situação que causa tanto sofrimento ás jivas? A resposta é que criar o mundo material é um dos seus ilimitados passatempos. Não há absência de variedade nos Seus ilimitados passatempos e este é um deles. Deus é completamente independente para fazer o que deseja. Não podemos desafiá-lo e como descrito nas escrituras Védicas, não podemos compreendê-lo através de argumento ou lógica.
Acintyah khalu ye bhava
Na tams tarkena yojayet
(Mahabharata, Bhisma-parvata 5.22)
“Não devemos tentar compreender assuntos que estão além da nossa concepção material através de argumento e lógica.”
Não é possível entender assuntos transcendentais através da limitada mente material, então consultamos as escrituras que descrevem sobre aquele plano, os Vedas. Consultamos o Srimad Bhagavatam, que é a essência de todos os Vedas e principalmente os grandes santos conhecidos como os Seis Goswamis, que nos deram a essência do Bhagavata nos seus próprios livros.
Como foi mencionado acima, é apenas pela influência da inconcebível energia de Krishna que faz com que o impossível se torne possível, que a jiva se torna iludida por maya, sob a concepção errônea de ‘Eu’ e ‘Meu’, a qual é baseada na ilusão da identificação com o corpo material. No seu estado natural, na sua forma constitucional, a jiva é pura. Mesmo sendo diminuta, ela é uma porção atômica de cit-sakti, a potência transcendental pessoal de Sri Krishna. A jiva está agora condicionada pelo corpo material, mas na sua natural constituição espiritual, não há nada material, não há ilusão.
Condicionamento material é chamado de ‘prisão’, mas esta prisão não é real. Não é realidade porque não toca a alma transcendental. Quando um homem dorme a noite, ele pode sonhar que sua cabeça está sendo cortada, mas quando ele acorda, vê que nada daquilo aconteceu. Similarmente, pela misericórdia de Sri Guru e Sri Krishna, quando acordamos para a Consciência de Krishna, pensamos: “O que estava vendo todo este tempo? Era justo como um sonho.” Se algum sofrimento vem até vocês, não há necessidade de ficarem agitados ou nervosos. Apenas lembre-se que este aparente sofrimento é devido ao estado ilusório, como vivendo em um sonho.
Maitreya Rsi continuou explicando á Vidura que onde não há sol, há escuridão; mas na verdade escuridão não existe, pois ela é simplesmente a ausência de luz. Similarmente, onde não há o serviço á Krishna, que é como o sol, não há maya, escuridão.
Mesmo que não seja possível compreender isto através de sentidos materiais ou através da mente, a jiva é realmente uma eterna serva de Krishna mesmo que em seu estado condicionado, pareça que não. Aqui, uma analogia: Se alguém coloca uma roupa sobre um relógio, não poderá ver nenhum movimento dos ponteiros, mesmo assim o ponteiro está se movimentando. Similarmente, vemos apenas nossas atividades corpóreas e mentais. Não podemos compreender que dentro do corpo, existe uma alma eterna, e que sem esta alma o corpo não seria capaz de funcionar. Somos seres conscientes, infinitesimais partes e parcelas de Deus, de algum jeito servindo Deus até mesmo no estado condicionado, mesmo que agora não realizemos isto.
Por exemplo, o demônio Kamsa estava servindo Krishna de maneira indireta. As atrocidades de Kamsa foram uma das causas do aparecimento de Krishna neste mundo. Se Kamsa não existisse, não haveria os doces passatempos de Krishna em Vrindavan. Similarmente, as atrocidades de Ravana foi a causa do aparecimento do Senhor Rama; se não houvesse Ravana, o inimigo de Rama, os doces passatempos de Rama não ocorrerião.
Similarmente, a jiva condicionada está servindo Deus, porém faz isto indiretamente. No momento, ela serve a potência ilusória de Deus, maya. Agora ela está em um sonho, sonhando que possui vários corpos materiais.
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