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domingo, 7 de abril de 2013

Jiva Tattva e Guru Tattva


                                         Todas as glórias á Sri Sri Guru e Gouranga!!! 
Iniciando a jornada ao 
Mundo Espiritual 
Jiva Tattva e Guru Tattva
 Srimad Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj
                                                                                       Prefácio
     Banhando com a poeira dos pés de lótus de Sri Guru Pad Padma Om Vishnu Pad Paramahamsa Parivrajakacharya-varya 108 Sri Srimad Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj, apresentamos este livro aos sinceros aspirantes pelo bem último da vida, isto é, devoção pura por Deus (suddha bhakti).
   Os assuntos tratados a seguir são de muita importância para aqueles que desejam trilhar o caminho que leva ao mundo espiritual. Primeiramente, Sri Gurudev explica quem somos nós, porque estamos neste mundo, qual a nossa relação com Deus e qual é o processo para nos livrar-nos deste plano material de existência. Este tópico é classificado com o nome de Jiva-tattva.    Várias concepções errôneas sobre este tópico estão sendo propagadas ao público leigo, porém com referências das escrituras, Sri Gurudev desmantela todas estas falsas concepções e nos ilumina com o significado profundo das palavras emanadas de Acharyas – Mestres Espirituais fidedignos, assim como de textos Védicos. Aqui, o aspirante encontrará uma espécie de almanaque completo sobre o começo do processo de sudha bhakti, o acordar do amor puro á Deus, que por si só libera as entidades vivas dekali yuga de todo tipo de sofrimento e lamentaçao e as concede o ‘vinho entorpecedor’ na forma do cantar dos santos nomes de Radha e Krishna. A feliciddade e êxtase encontrado na prática de suddha bhakti (devoção pura) são transcendentais e está livre de toda contaminação mundana.
   Na segunda parte Sri Gurudev explica detalhadamente as qualidades de um Sad-Guru fidedigno, as quatro manifestações de Sri Guru, como reconhecer um Maha Bhagavata Sad Gurudev, qual o dever de um discípulo, quando se deve abandonar um guru desqualificado e a importância de se ter um Siksha Guru. Também descreve as glórias da associação com o devoto puro de Deus. Sobre a importância de um guardião fidedigno, apresentamos também um artigo escrito por Sua Santidade Sri Srimad Bhakti Rakshak Sridhar-dev Goswami Maharaj.
   Na terceira e última parte, apresentamos um artigo escrito pelo fundador do movimento para a Consciência de Krishna no século dezoito – Srila Sachidananda Bhaktivinoda Thakur Mahasay, o grande arquiteto da missão mundial dos ensinamentos de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ali ele descreve os diferentes níveis de devotos, quais são seus respectivos sintomas de acordo com a qualidade do cantar dos santos nomes, e como devemos nos relacionar com cada um deles. Também descreve o perigo de se cometer Vaishnava Ninda (ofensa ao Vaishnava) assim como os motivos apropriados para se refletir nas suas falhas. Ainda neste tópico, finalizamos com as instruções de Srila Vrindavan Das Thakur extraídas do seu famoso livro chamado Sri Chaitanya Bhagavata com a tradução de Sua Santidade Sri Srimad Bhakti Vaibhav Puri Goswami Maharaj.
   O autor e a fonte exata das leituras que compõe o livro estão indicados logo após o título principal de cada parte. Para a leitura dos textos, livros e artigos originais em inglês, favor ver os links na última página do livro. Que Sri Guru Pad Padma fique satisfeito com esta publicação e nos conceda a sinceridade necessária para servir seus confortantes pés de lótus de maneira digna e amorosa.
  
    tradutor :    Baladev Das Brahmachari      
                            6 de Novembro – 2012- Auspicioso dia do Aparecimento de Sri Radha Kunda.
 Om Vishnu Pad Srila Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj

Jiva-Tattva



A verdade sobre o eu, (a alma).
(Extraído do livro de Srila Gurudev chamado ‘Jiva tattva’- The Journey of the soul).
    O tema a seguir, refere-se às verdades filosóficas estabelecidas nas escrituras sagradas, sobre a natureza das entidades vivas (jiva-tattva) e este tema é bastante profundo. Ainda sim, é essencial saber este tópico, especialmente para aqueles que ativamente compartilham tópicos espirituais com outras pessoas. Conhecimento lúcido das verdades filosóficas é a fundação de uma vida espiritual forte.

Siddhanta baliya citte na kara alasa
Iha há-ite krsne lage sudrddha manasa
(Sri Chaitanya-caritamrta, Ai-lila 2.117)

“O estudante sincero não deve negligenciar a discussão de tais conclusões, considerando-as controversiais, pois tais discussões fortalecem a mente. Então, a mente do estudante fica atraída á Sri Krishna.”

   Em toda literatura devocional ou Vaishnava, encontramos alguém que pergunta e alguém que responde estas questões. Este requerimento lidera até a fundação da vida espiritual: questionamento humilde visando saber a Verdade. O próprio Senhor Deus dá este exemplo, como foi visto nas conversas entre o Deus Supremo Sri Chaitanya Mahaprabhu e seus associados Srila Roy Ramananda e Srila Sanatana Goswami.
   Neste humor, o grande Rei Parikshit Maharaj faz perguntas ao santo, Sri Sukadev Goswami: “A constituição transcendental da entidade viva é espiritual e consciente, enquanto que a ilusória energia material de Deus (maya) é inerte e mundana. Como é então que a entidade viva fica enredada em maya? Isto é incrível.”
   Srila Sukadev Goswami responde:

Bhayam dvitiyabhinivesatah syad
Isad apetasya viparyayo ´smrtih
Tan-mayayato buddha abhajet tam
Bhaktyaikayesam guru-devatatma

(Srimad Bhagavatam 11.2.37)

   “O medo vêm quando a entidade viva identifica a si mesmo com o corpo material devido a sua absorção nas coisas externas - energia ilusória de Deus. Quando ele se afasta do Deus Supremo, ele também se esquece sua própria posição constitucional como um servo de Deus. Esta confusa e temerosa situação é o efeito da energia ilusória, chamada maya. Então, a pessoa inteligente deve engajar-se firmemente no unidirecionado serviço devocional a Deus sob a guia de um mestre espiritual fidedigno, quem ele deve aceitar como sua deidade adorável e como sua própria vida e alma.”

   Este verso indica que Sri Krishna é a causa de toda existência. Ele é a Verdade Absoluta, É um sem haver um segundo. Ele é a Verdade Última. Ele é o primeiro, e não há um segundo. Ele é a personificação da completa existência. Ele manifesta várias potências, ilimatadas entidades vivas (jivas ou almas), e inumeráveis mundos e universos; até mesmo seu pai Nanda Maharaj e sua mãe Yashoda, e todos os seus associados são suas manifestações. Ele é então, a deidade adorável de todos.
   Pela constituição da entidade viva, ela é uma serva eterna deste Supremo Deus adorável, Sri Krishna. Como foi dito no Sri Chaitanya-charitamrta (Madhya-lila 20.108):

Jivera svarupa haya – krsnera nitya dasa
Krsnera ‘tatastha sakti’ bhedabheda-prakasa

“A posição natural e constitucional da entidade viva é que ela é uma eterna serva de Krishna, porque ela é uma energia marginal de Krishna e uma manifestação simultaneamente igual e diferente Dele.”

   Como uma serva eterna de Sri Krishna, a alma (jiva) é bem aventurada por natureza. Porém em algum momento crucial ela olhou para a energia externa de Deus, pensando que existe algo além de Deus.
   Sendo uma parte e parcela de Krishna, a intrísica natureza da jiva é de olhar para Sri Krishna, então, porque então ela olhou para maya? A resposta é que Krishna deu uma certa independência a ela. Se ela faz mal uso desta independência, ela cai na jurisdição de maya (energia ilusória) e é punida. Confundida por maya, ela se torna materialmente absorta, e neste predicamento, nenhuma outra pessoa materialmente absorvida pode salva-la.
   No penúltimo verso acima mencionado por Sri Sukadev Goswami, confirma-se que a entidade viva estava situada na linha entre o mundo transcedental e o inerte mundo material. Pela nossa escolha, olhamos para a ‘dôce’ maya, que por sua vez nos mostrou o caminho pelo qual poderíamos desfrutar por conta própria, aparte de Krishna.
   Enamorada por maya, a jiva pensa: “Desfrutar é um direito meu”. Então, imediatamente maya à supre com o corpo sutil (composto pela mente material, inteligência e falso ego) e o corpo grosseiro (composto por osso, sangue, pele, urina e fezes etc...) e então ela começa a pensar: “Eu sou este corpo e tudo que está relacionado com com este meu corpo é meu”.
   Assim, quando a jiva vira as costas para Krishna devido ao seu livre arbítrio e independência, ela fica encoberta pela concepção errônea deste conceito material e corpóreo da vida e se torna enamorada pelas bonitas formas manufaturadas por maya. Estando neste campo de existência, ela não consegue encontrar a saída por si mesma. A única escapatória é o refúgio daqueles que conhecem o caminho de saída. Após um longo tempo presa neste mundo de nascimentos e mortes, as almas afortunadas podem ser abordadas por um devoto puro, quem dirá: “O que estão fazendo irmãos e irmãs? Vocês estão sem rumo. Vocês se desviaram do caminho da verdadeira felicidade. Vocês se desviaram do caminho do amor á Deus. Venha comigo; guiarei voçês na estrada da verdadeira felicidade”.
   Apenas mantendo boas companias, a pessoa poderá desenvolver consciência espiritual e considerar esta verdade: “Sou um servo eterno de Krishna, e também posso servi-lo com amor e afeição, como aqueles que estão no mundo transcendental. Este mundo é apenas uma sombra daquela sublime consciência espiritual de amor e serviço”.
   Srila Sukadeva Goswami explica ao rei Parikshit, a importância de associar com os exaltados e santos devotos de Deus. Um devoto santo pode mudar o coração de uma alma miserável em um só instante.

Sadhu sanga sadhu sanga sarva sastre kaya
Lava matra sadhu sanga sarva siddhi haya

O veredito de todas as escrituras reveladas é que até mesmo um instante de associação com o devoto puro, todo sucesso pode ser alcançado.

   O Srimad Bhagavatam também declara que qualquer um que sinceramente canta e lembra de Krishna sob a guia de um santo fidedigno, é destinado a se tornar feliz. Se até mesmo um devoto neófito está sinceramente cantando e chorando por Krishna, lamentando a sua caída condição, ele está destinado a ser feliz ataravés da associação santa. A pessoa pode estar afligida por inúmeros pensamentos e hábitos indesejáveis, mas se ela canta sinceramente, com certeza se tornará feliz.
   Aquele devoto feliz mostrará aos outros, o caminho espiritual e dirá: “Eu conheço um real santo, uma alma auto-realizada, um verdadeiro Guru, e pela ajuda Dele, me tornei tão jubilante. Venha comigo, vou levá-lo até Ele”. Esta pessoa é chamada de vartma-pradarsaka-guru, o Guru que mostra o caminho.
   Sri Krishna é muito misericordioso; Ele é o Guru situado no coração (chaitya-guru). Juntamente com o vartma-pradarsaka-guru, Ele guia a pessoa até o fidedigno e auto-realizado Guru. Aceitando este guru fidedigno, a pessoa começa sua prática de atividades devocionais no serviço a Sri Krishna e gradualmente todos seus maus hábitos e mentalidades desaparecem.

Somos infinitesimais, Ele é infinito




Ekah suddhah svayam-jyotir
Nirguno sal gunasrayah
Sarva go navrtah saksi
Niratmatmatmanah parah

(Srimad-Bhagavatam 4.20.7)

Existe uma alma Suprema. Ele é puro, não-material e auto-manifesto. Ele é o reservatório de todas as boas qualidades e é auto-penetrante. Ele não possui coberturas materiais e é o testemunho de todas atividades. Ele é completamente distinto das outras entidades vivas e é transcendental à todas as almas condicionadas.

   Este verso descreve as qualidades da Suprema Personalidade de Deus e então aponta várias diferenças entre ele e a alma individual. Alguns dizem que todas as entidades vivas são Deus, e os que acreditam nisto interpretam de maneira errônea o aforismo védico ‘tat tvam asi’ como ‘voçê é o Deus impessoal’. O significado correto seria: ‘a entidade viva é uma partícula espiritual do espírito supremo’. Também no aforismo ‘aham brahmasmi’ que significa ‘Eu não sou este corpo, sou uma alma espiritual’, eles interpretam como ‘Sou aquele espírito supremo, sou brahma’.
   O líder desta doutrina, Sankaracharya, é uma encarnação de Sankara, Shiva. Ele era muito inteligente. Apesar de ser o líder do caminho impessoal, seu verdadeiro intuíto era satisfazer Sri Krishna. Krishna instruiu Shankara: “Vá ao mundo material e me esconda de todos aqueles que se opõe à minha devoção pura, aqueles que me servem e me adoram com o desejo de tornar-se poderoso como os demônios Ravana e Hiranyakashipu. Estes falsos devotos irão criar perturbações, então mantenha-nos longe de mim. Vá e iluda eles impartindo errôneas interpretações dos Vedas. Diga a eles:’Porque estão adorando Krishna? Vocês são Deus em todos os aspectos. Somos todos um com o Deus impessoal’”.
   Assim, o impersonalismo não é a idéia do significado dos Vedas. Na verdade, nós não somos Deus, nem tampouco Deus é impessoal. Ele é uma pessoa, e nós somos Suas partes e parcelas, Seus eternos servos. A Suprema Personalidade de Deus é apenas Um sem um segundo, enquanto que as entidades vivas são inúmeras.
   Considere esta distinção primária: a alma individual não se faz presente em um objeto como um microfone, mas o Paramatma, a forma de Sri Krishna como a Superalma, está presente ali. Nada neste mundo existe sem a presença do Paramatma.
   Há duas almas dentro de cada corpo – a infinitesimal entidade viva (jiva - alma) e a manifestação de Deus – Paramatma. A jiva enredada nas atividades fruitivas (karma), tenta saborear os frutos do seu esforço. O Deus Supremo não é uma alma condicionada e também não está enamorado pela energia material. Ele é simplesmente aquele que testemunha as ações da jiva, situando-se no coração da mesma.
   O Senhor supremo é eternamente puro, e maya, ou ilusão, está bem longe Dele e de Sua morada.Maya não pode atrair Deus, mas a jiva, sendo diminuta, pode atrair-se por maya a qualquer momento. Sri Krishna é sempre puro e auto-iluminado, enquanto que a jiva está sujeita á ser influenciada pela escuridão da ilusão e assim pode vir a ser coberta pela identidade errônea da identificação corpórea.
   Krishna aparece pessoalmente na sua mais linda forma como Vrajendra-nandana, o filho de Nanda Maharaj, para aqueles que performam bhajan, meditação devocional e serviço á ele. Para aqueles que servem Deus na sua opulenta forma de quatro braços como Vaikuntha Narayana, Ele aparece como O Senhor Narayana. Aqui neste mundo ele reside como a testemunha situada no coração de toda entidade viva (incluindo animais, vegetais, insetos, etc...) como também em todo e qualquer átomo, como Paramatma. Deus manifesta uma ilimitada multi-diversidade de formas e energias, enquanto que a jiva é bem limitada, localizada e diminuta.
   Sri Krishna é a eterna Verdade Absoluta. Katha Upanisad (2.2.13) diz: “nityo nityanam cetanas cetananam - das entidades vivas, Ele é a Suprema Entidade Viva e dentre tudo que é eterno, Ele é o Eterno Supremo”. Ainda que a jiva seja conhecida como sendo parte e parcela separada de Krishna, na verdade ela não separada. A jiva não pussui existência separada de Krishna e sempre será subordinada a Ele, tanto neste mundo, quanto no mundo espiritual.
   Krishna está livre de qualidades materiais e ao mesmo tempo possui todas as qualidades transcendentais. As jivas podem ter as mesmas qualidades de Sri Krishna, quando pela graça de Deus e de Sri Guru, ela realiza sua natureza eterna de subordinação a ele.
   Uma vez, o grande santo Vidura foi até Badrikasram nos Himalayas encontrar-se com Maitreya Rsi, um erudito sábio e recipiente da misericórdia de Sri Krishna. Vidura aproximou de Maitreya Rsi e perguntou: “É incrível! A jiva mesmo sendo uma entidade consciente que está sempre conectada com o Deus Supremo em sua forma como Super-alma, ainda sim continua iludida por maya. Como isto é possível?”
   Maitreya Rsi respondeu: “Vou lhe dizer brevemente a única razão disto. Sri Krishna é possuidor de um poder inconcebível conhecido como aghatana-ghatana-patiyasi-sakti, o poder que faz o impossível se tornar possível. É este poder que retira a misericórdia de Krishna para com a jiva que escolhe Lhe dar as costas. Assim este poder faz com que a jiva se torne uma alma condicionada.”
   Considere que maya é também uma das potências de Krishna e por isto não pode fazer qualquer coisa que vai de encontro ao Seu desejo. Certamente então, Krishna é a causa da ação de maya. Por que então, Krishna criou tal situação que causa tanto sofrimento ás jivas? A resposta é que criar o mundo material é um dos seus ilimitados passatempos. Não há absência de variedade nos Seus ilimitados passatempos e este é um deles. Deus é completamente independente para fazer o que deseja. Não podemos desafiá-lo e como descrito nas escrituras Védicas, não podemos compreendê-lo através de argumento ou lógica.

Acintyah khalu ye bhava
Na tams tarkena yojayet

(Mahabharata, Bhisma-parvata 5.22)

   “Não devemos tentar compreender assuntos que estão além da nossa concepção material através de argumento e lógica.”

   Não é possível entender assuntos transcendentais através da limitada mente material, então consultamos as escrituras que descrevem sobre aquele plano, os Vedas. Consultamos o Srimad Bhagavatam, que é a essência de todos os Vedas e principalmente os grandes santos conhecidos como os Seis Goswamis, que nos deram a essência do Bhagavata nos seus próprios livros.
   Como foi mencionado acima, é apenas pela influência da inconcebível energia de Krishna que faz com que o impossível se torne possível, que a jiva se torna iludida por maya, sob a concepção errônea de ‘Eu’ e ‘Meu’, a qual é baseada na ilusão da identificação com o corpo material. No seu estado natural, na sua forma constitucional, a jiva é pura. Mesmo sendo diminuta, ela é uma porção atômica de cit-sakti, a potência transcendental pessoal de Sri Krishna. A jiva está agora condicionada pelo corpo material, mas na sua natural constituição espiritual, não há nada material, não há ilusão.
   Condicionamento material é chamado de ‘prisão’, mas esta prisão não é real. Não é realidade porque não toca a alma transcendental. Quando um homem dorme a noite, ele pode sonhar que sua cabeça está sendo cortada, mas quando ele acorda, vê que nada daquilo aconteceu. Similarmente, pela misericórdia de Sri Guru e Sri Krishna, quando acordamos para a Consciência de Krishna, pensamos: “O que estava vendo todo este tempo? Era justo como um sonho.” Se algum sofrimento vem até vocês, não há necessidade de ficarem agitados ou nervosos. Apenas lembre-se que este aparente sofrimento é devido ao estado ilusório, como vivendo em um sonho.
   Maitreya Rsi continuou explicando á Vidura que onde não há sol, há escuridão; mas na verdade escuridão não existe, pois ela é simplesmente a ausência de luz. Similarmente, onde não há o serviço á Krishna, que é como o sol, não há maya, escuridão.
   Mesmo que não seja possível compreender isto através de sentidos materiais ou através da mente, a jiva é realmente uma eterna serva de Krishna mesmo que em seu estado condicionado, pareça que não. Aqui, uma analogia: Se alguém coloca uma roupa sobre um relógio, não poderá ver nenhum movimento dos ponteiros, mesmo assim o ponteiro está se movimentando. Similarmente, vemos apenas nossas atividades corpóreas e mentais. Não podemos compreender que dentro do corpo, existe uma alma eterna, e que sem esta alma o corpo não seria capaz de funcionar. Somos seres conscientes, infinitesimais partes e parcelas de Deus, de algum jeito servindo Deus até mesmo no estado condicionado, mesmo que agora não realizemos isto.
   Por exemplo, o demônio Kamsa estava servindo Krishna de maneira indireta. As atrocidades de Kamsa foram uma das causas do aparecimento de Krishna neste mundo. Se Kamsa não existisse, não haveria os doces passatempos de Krishna em Vrindavan. Similarmente, as atrocidades de Ravana foi a causa do aparecimento do Senhor Rama; se não houvesse Ravana, o inimigo de Rama, os doces passatempos de Rama não ocorrerião.
   Similarmente, a jiva condicionada está servindo Deus, porém faz isto indiretamente. No momento, ela serve a potência ilusória de Deus, maya. Agora ela está em um sonho, sonhando que possui vários corpos materiais.


Nosso despertar



  Escondido no coração do corpo material, toda jiva possui uma forma maravilhosa. È com esta forma transcendental (siddha deha) que a jiva pode servir Krishna diretamente. Mesmo que esta forma espiritual esteja agora coberta, pela misericórdia de Sri Guru e Sri Krishna, todos os hábitos e mentalidades indesejáveis gradualmente desaparecem e então esta forma eterna é gradualmente revelada. Quando um praticante atinge o estágio de bhava (emoções espirituais), caracterizada pela devoção que é transcendental aos modos materiais, seu ou sua divina forma espiritual manifesta no coração e então a jiva pode realizar sua siddha deha.
   Então, recebendo a misericórdia de Sri Krishna, o praticante torna-se completamente livre do seu corpo material grosseiro, mente, inteligência, falso ego e consciência contaminada.
   Sobre o próprio Sri Krishna, Ele nunca tem um corpo material. Ele nunca deixa um corpo material aqui quando parte deste mundo, desaparecendo da visão de todos. A forma de Krishna não é apenas transcendental a todo tipo de corpo material, mas também é a verdadeira causa de todos os mundos, tanto materiais, quanto espirituais.
   Para compreender estes profundos tópicos espirituais e realizar nosso ser interno e original, aspiramos obter a misericórdia de um mestre espiritual genuíno da mais alta classe e pela graça Dele, aspiramos performar bhajan.

Evam-vratah sva-priya-nama-kirtya
Jatanurago druta-citta uccaih
Hasaty atho roditi rauti gayaty
Unmada-van nrtyati loka-bahyah

(Srimad Bhagavatam 11.2.4)

“Por cantar os santos nomes de Deus, a pessoa atinge o estágio de amor a Deus. Então, o devoto se fixa no voto de que é um servo eterno de Deus e gradualmente se torna muito atraído a uma particular forma e nome de Deus. Como seu coração derrete em êxtase amoroso, ele dá risadas em um tom bem alto ou então chora. Às vezes ele canta e dança como um homem louco, pois está indiferente à opinião pública.”

   Tal devoto puro não é tímido ao expressar sua devoção. Ele canta bem alto, sem se importar com o ambiente, ou se está ou não vestido. Lembrando constantemente os passatempos de Krishna, as vezes Ele chora, “Ó Krishna, onde está você?” e as vezes rola no chão, dando risadas como um louco. Pessoas comuns consideram-no como um louco, mas Ele simplesmente experimenta os sintomas do amor a Deus. Esta realização espiritual é nossa real posição e este é o objetivo da nossa vida. Esforçêmos em engajar nossa mente em escutar, adorar e especialmente cantar os santos nomes de Deus.
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Duas classes de jivas




   Há duas categorias de jivas, como descrito no Sri Chaitanya Charitamrta (Madhya-lila 22.10-13)

Sei vibhinnamsa jiva – dui ta prakara
Eka – nitya-mukta eka nitya samsara

“As entidades vivas (jivas), estão divididas em duas categorias. Algumas são nitya-muktas – eternamente liberadas, nunca foram condicionadas. As outras são as nitya baddhas ou nitya samsara- condicionadas desde tempo imemorial.”

   As nitya muktas jivas são eternamente liberadas e são manifestadas no mundo espiritual. Já as nitya baddhas são manifestadas na potência marginal (tatastha sakti) e por que olharam para o mundo material, estão condicionadas desde tempo inimaginável, por isso são chamadas de nitya samsara.Nitya aqui não significa ‘eternamente’ e sim ‘um tempo incalculável’.
   As jivas manifestadas em tatastha sakti que olharam para o mundo espiritual também são consideradas nitya mukta jivas.

Nitya mukta nitya krsna carane unmukha
Krsna parisada nama bhunje seva sukha

(Chaitanya Charitamrta, Madhya-lila 22.11)

“Aqueles que são eternamente liberados estão sempre despertos para a consciência de Krishna, e sempre rendem serviço devocional amoroso aos pés de lótus de Krishna. Eles são considerados associados eternos de Krishna e desfrutam eternamente do êxtase transcendental do Seu serviço.”

   É muito importante compreender este ponto. As almas liberadas são associadas eternas de Sri Krishna em Sua morada, sempre engajadas em servi-lo e testar a doçura do Seu serviço. Na morada de Deus, a potência que ilude as almas condicionadas (maya), não está presente. Em seu comentário do Srimad Bhagavatam (3.16.26), Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj diz: “A conclusão é que ninguém cai do mundo espiritual, Goloka ou planetas Vaikuntha, pois Estas são suas eternas moradas”.
   Pergunta: Alguém pode dizer, “Sim, aceitamos o que Krishna disse no Bhagavad Gita – que uma vez saindo deste mundo e indo a Vaikuntha, jamais retornamos”. Mas nós caímos de lá antes de primeiramente vir a este mundo.

   Srila Narayan Goswami Maharaj: Se isto fosse verdade, o princípio propagado no Bhagavad Gita e outras escrituras seria um equívoco. Nossas escrituras lidam apenas com a realidade. Aquelas almas que já estão servindo naquele plano transcendental, não podem vir a ser iludidas por maya de forma alguma. Não há a possibilidade de se tornarem aversas a Krishna. Elas nunca caem, pois não há mayana morada de Deus.

   Nesta conexão, devemos tentar seguir os ensinamentos de Srola Jiva Goswami, nosso tattva-acharya, como também os ensinamentos da nossa sucessão discipular como Srila Baladeva Vidyabhusana, Srila Viswanath Chakravati Thakur e especialmente Srila Bhaktivinoda Thakur. Quiando existe qualquer confusão ao ler um livro de um particular guru fidedigno, podemos reconciliar e harmonizar nosso entendimento por aceitar ajuda dos livros de outros gurus fidedignos na nossa sucessão discipular.
   Srila Jiva Goswami é um exaltado guru fidedigno. Ele explicou este tópico nos seus sandarbhas e não deixou nenhuma sombra de dúvida quanto á isso. Temos que ler seus livros para reconciliar e poder harmonizar as aparentes ‘contradições’ nos ensinamentos de todos nossos Acharyas.
   Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj aceitou esta linha do guru parampara mais do que nós. Ele é uma alma realizada. Ele nunca disse nada diferente dos acharyas prévios. Srila Bhaktivinoda Thakur aceitou todos os prévios acharyas na linha de Sri Rupa Goswami. Srila Bhaktissidhanta Saraswati Goswami Thakur aceitou Srila Bhaktivinoda Thakur e Srila Bhaktivedanta Swami Maharaj aceitou seu Gurudeva, Srila Bhaktissidhanta Saraswati Thakur. Com este entendimento, podemos reconciliar tudo.
   Sobre este mesmo tópico, (que também pode parecer uma ‘contradição’), é dito no Chaitanya Charitamrta (Madhya lila 20.117):

Krsna bhuli sei jiva anadi-bahirmukha
Ataeva maya tare deya samsara dunkha

“Esquecendo-se de Krishna, a entidade viva tem sido atraída pela externa forma desde tempo imemorial. Então, a energia ilusória maya á concede todo tipo de miséria nesta existência material”.

   No verso acima, as palavras ‘krsna bhuli’ aparentemente significa ‘Esquecendo-se de Krishna’. Mas, qual é o seu significado profundo? Isto realmente significa que uma vez ela estava engajada no serviço a Sri Krishna na sua eterna e espiritual morada, e agora ela se esqueceu deste serviço?
   A indicação das palavras ‘krsna bhuli’ aqui é bem diferente. Todas as linguas mundanas apresentam defeitos e assim elas não podem expressar puramente tópicos transcendentais, como a natureza da nossa forma constitucional (swarupa). Para clarear o significado, Srila Krsna Das Kaviraja Goswami escreveu; ‘krsnera tatastha sakti-bhedabheda-prakasa, que significa que a jiva é manifestação da energia marginal de Krishna.
     Almas liberadas sempre permanecem liberadas.   É completamente absurdo pensar que as almas liberadas em Goloka Vrindavan ou Vaikuntha podem ser coberta por maya. Sobre isto, O Srimad Bhagavatam descreve várias histórias dos associados de Deus, como a história de Jaya e Vijaya, Chitraketu Maharaj, Bharata Maharaj e outros. Uma leitura casual destes passatempos pode dar a impressão que eles caíram do mundo espiritual e pode-se ter esta impressão com prova de que a entidade viva cai de lá. Porém, nenhum destes associados de Deus caiu de suas posições, mas propositalmente vieram á este mundo para estabelecer certos princípios e ensinamentos para as almas condicionadas. (Como no caso de Shakaracharya; pode alguém falar que Shiva Shankar é um impersonalista por que pregou mayavada?)
   Há um grande erro ao deliberar sobre a ‘queda’ de Jaya e Vijaya e outros. Jaya e Vijaya eram porteiros guardiões em Vaikuntha. Eles desejaram satisfazer o desejo de Sri Narayana de testar o humor de combate. Deus Narayana então atraiu os quatro Kumaras para visitá-lo em Vaikuntha e especificamente amaldiçoar Jaya e Vijaya á descender neste mundo e então Narayana poderia ter a oportunidade de lutar contra oponentes fortes como ele. Os associados de Deus são também bastante poderosos. Apenas eles poderiam ser bons oponentes para Narayana, ninguém mais.
   Ira, luxúria ou qualquer má qualidade nunca se faz presente em Vaikuntha. No caso da ‘maldição’ de Jaya e Vijaya, por exemplo, Sri Narayana inspirou pessoalmente sua potência transcendentalyogamaya para deixar os quatro Kumaras irados, e assim amaldiçoar Jaya e Vijaya. Após amaldiçoar Jaya e Vijaya, os Kumaras imediatamente lamentaram, mas Sri Narayana disse á eles: “Não se preocupem. Eu mesmo queria que isto acontecesse, Jaya e Vijaya manifestarão como demônios no mundo material por três vidas, e assim performarei passatempos de combate com eles. Durante este tempo, eles permanecerão simultâneamente em suas forma originais no mundo espiritual.”
   Assim, Jaya e Vijaya continuaram residindo em Vaikuntha nas suas forma originais, e suas manifestações vieram á este mundo fenomenal para atuar como demônios.
   Sendo devotos puros, Jaya e Vijaya são capazes de manifestar ilimitadas formas, assim como mãe Yashoda, a mãe de Krishna, possui ilimitadas formas. Narada Rsi também pussui ilimitadas formas em Vaikuntha, em Dwaraka e em infinitos universos. Brahma disse uma vez que uma pessoa pode ser capaz de contar as estrelas no céu ou os grãos de areia da terra, mas nunca será capaz de glorificar completamente os doces passatempos de Krishna e Seus associados. Não podemos até mesmo imaginar estas coisas.   Enquanto nenhuma alma cai de Goloka Vrindavan ou Vaikuntha em nenhum momento, elas podem vir á este mundo para performar passatempos com Krishna, como no caso dos amigos vaqueiros Sridama e SubalaOu também, Krishna pode enviar uma alma liberada, um dos seus associados, á este mundo, dizendo á ele: “Vai lá e ajude as almas condicionadas.” Uma alma liberada neste mundo tem mais entendimento das ansiedades e sofrimentos das almas condicionadas do que aquelas que estão em Goloka, pois realiza a realidade do mundo espiritual e simultaneamente vê este mundo.
   Ninguém é feliz neste mundo. Até mesmo aqueles que estão nos primórdios da juventude estão insatisfeitos, e eles nunca ficarão satisfeitos. Eles terão que ficar velhos e morrer, e quando morrerem não poderão levar nada do que coletaram em suas vidas. Então, tente lembrar de Krishna e seguir isto: “Só existe um deus, uma religião, e esta única religião é amor e afeição pelo Supremo senhor do universo, Sri Krishna.”

Liberação em um instante



   Pergunta: Por que a entidade viva possui diminuta independência?

   Srila Narayan Goswami Maharaj: É por que ela é uma entidade consciente. Ela não é inconsciente. Independência é um sintoma de uma entidade consciente, quem sempre possui independência, esteja ela condicionada neste mundo ou liberada no mundo espiritual. Krishna quer que todos vão até Ele e o sirva no mundo espiritual. Ele nunca deseja que as pessoas vivam separadamente dele e então sejam infelizes. Se Ele vê que alguém tem um pequeno, porém sincero desejo de servi-lo, ele arranja tudo de tal maneira que esta pessoa vá ao mundo espiritual e associe com ele. No livro de Sanatana Goswami- Brhad Bhagavatamrta, descreve-se como Deus elabora os arranjos para a entidade viva ir até o mundo espiritual.

   Pergunta: Se nós almas espirituais não caímos de Goloka Vrindavan, porque as escrituras dizem  que nós ‘revivemos’ nossa relação com Krishna, ou que ‘esquecemos’ desta relação? Se nós nunca experienciamos isto, por que termos como ‘De volta ao Supremo’ ou ‘esquecemos’ foram usadas?

   Srila Narayan Goswami Maharaj: Podemos entender isto pelo verso seguinte:
Krsna bhuli sei jiva anadi-bahirmukha
Ataeva maya tare deya samsara duhkha

(Sri Chaitanya-charitamrta- Madhya-lila 20.117)

“Esquecendo-se de Krishna, a entidade viva tem sido atraída pela energia externa desde tempos imemoriais (anadi). Então, a energia ilusória – maya- concede a ela, todos os tipos de miséria no mundo material.”

   A resposta para sua pergunta foi indicada pela palavra ‘anadi’. Anadi significa ‘sem começo’. Isto significa que a entidade viva nunca esteve com Krishna.

   Pergunta: Por que então a palavra ‘esqueceu’ é usada frequentemente?

   Srila Narayan Goswami Maharaj: Esta palavra e outras semelhantes são usadas para neófitos que não possuem um entendimento substancial da consciência espiritual. Alguém pode dizer, “O sol está se pondo atrás daquela árvore.” Isto é dito apenas para dar uma indicação sobre a direção na qual o sol pode ser percebido. Se o sol estivesse realmente se pondo na árvore, a árvore se reduziria a cinzas em menos de um segundo. Similarmente, estas e outras palavras (Como Srila Swami Prabhupada usava ‘De Volta ao Supremo’) nos dá uma mera indicação da realidade espiritual. É como ‘comida para crianças’. No estágio inicial, tais indicações são necessárias para a alma condicionada ter uma ‘idéia’ da realidade. Se um real praticante avançado em bhakti (sadhaka) nunca cai nas armadilhas de maya, então o que falar de um siddha, uma alma liberada perfeita, que está sempre imersa em saborear o néctar do serviço pessoal á Sri Krishna?
    Se a jiva está em Goloka Vrindavan, como é possível ela se esquecer de Krishna? O seguinte verso do Bhagavad Gita descreve as qualidades de um devoto situado em prema-bhakti, que, em suasiddha-rupa, é um associado de Krishna em sua morada espiritual.

Visaya vinivartante niraharasya dehinah
Rasa-varjam raso py asya param drstva nivartate

(Bhagavad Gita – 2.59)

“A alma condicionada pode artificialmente restringir a gratificação sensorial por desviar os sentidos dos seus objetos, ainda sim seu gosto pelos objetos sensoriais permanece. Porém, aquele que experiência um gosto superior está sempre consciente. Um devoto de Deus, restringe os sentidos automaticamente devido á este gosto superior.”

   Se alguém vê um bonito objeto, mas logo depois comtempla algo que considera mais bonito ainda, ele será atraído pelo último. Se a pessoa tem o desejo de desfrutar de certas coisas, mas depois adquire um maior gosto por um objeto superior, seu gosto pelo objeto inferior desaparecerá automaticamente.
   É devido á este gosto superior que os puros gaudiya Vaishnavas, que seguem os passos de Sri Chaitanya Mahaprabhu, não necessitam se esforçar-se nem um pouco para controlar a mente. Eles controlam a mente muito facilmente, pois estão sempre engajados em escutar hari-katha, cantar e lembrar de Sri Krishna.
   A doçura que surge da relação com Krishna é muito mais saborosa do que o gosto que surge de relações mundanas. A mente também é material e assim está sempre engajada em saborear relações mundanas. Porém, se alguém experimenta algo superior, como o serviço amoroso a Sri Krishna, não há questão de pensar neste mundo. O mundo material é de algum jeito bonito, mas Sri Krishna, as Gopis e Goloka Vrindavan são muito mais bonitos.
   Neste mundo há tantas coisas que pensamos ser boas, mas na verdade tudo isso é como veneno. No começo pode testar doce, mas depois se torna amargo. Por exemplo, quando um homen e uma mulher começam uma relação íntima, a relação parece dôçe no começo, mas invariavelmente se torna salgada. Este fenômeno acontece em qualquer coisa que tentamos desfrutar neste mundo. Se alguém sempre engaja sua mente em Sri Krishna, sua mente vai automaticamente ser controlada e ela nunca será iludida por maya.


As glórias de Sadhu Sanga


Segunda Parte – Guru Tattva


As glórias de Sadhu Sanga

(Extraído dos capítulos do livro de Srila Gurudev chamado ‘Pinnacle of Devotion’ que tratam de Guru-tattva)
  
   Venha comigo á Vrindavana. Aqui, na solitária atmosfera do templo de Radha Damodara em Seva-kunja, Krishna das Kaviraja Goswami costumava escrever seus livros. Seva kunja é um lugar para a perfeição (siddha sthali), porque Krishna costumava vir aqui servir Srimat Radhika. Aqui ele desfrutou de seus passatempos transcendentais, e aqui também encontramos as poeiras dos pés de lótus das gopis. Krishna também serviu Srimat Radhika em Vamsivata e Nidhuvana. Nestes lugares, Sri Krishna, Radhika e as gopis são controlados pelo amor personificado. Não aspiramos obter Krishna, e sim amor por Ele. Kamsa, Jarasandha, Sisupala e outros demônios também queriam Krishna, mas não tinham amor ou afeto por Ele.

Krsna, guru, bhakta, sakti, avatara, prakasa
Krsna ei chaya-rupe karena vilasa

“O Senhor Krishna desfruta em sua própria forma, na forma dos mestres espirituais, dos devotos, das diversas energias, das encarnações e porções plenárias. Todos eles são seis em um.”

(Chaitanya Caritamrta Adi 1.32)

   Srila Krishna das Kaviraja Goswami explica aquí que Sri Krishna se manifesta neste mundo de seis formas: como o próprio Krishna, como dois tipos de mestre espiritual, como seus devotos, como suas energias, como suas encarnações e como suas porções plenárias. Para entender as manifestações de Krishna, é preciso esclarecer alguns conceitos.
   Em um dos primeiros versos do Sri Caitanya Caritamrta, Srila Krishna das Kaviraja diz:

“Antes de tudo, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e também aos pés de lótus de todos os meus mestres espirituais instrutores.”

   Mantra guru indica o mestre espiritual iniciador, o que concede o gayatri mantra. O mestre espiritual instrutor (siksa guru) nos ensina como devemos servir Sri Krishna, quem somos nós, o que é devoção (Bhakti), qual é a realidade sobre a entidade viva e como a alma condicionada pode alcançar a perfeição em bhakti.
   No Bhakti-rasamrta-sindhu, Srila Rupa Goswami declara:

Anyabhilasita-sunyam jnana-karmadi-anavrtam
Anukulyena krsnanu-silanam bhaktir-uttama

“Serviço devocional puro é executado com amor e afeição, adotando tudo que é favorável e rejeitando tudo que é desfavorável á bhakti. Tal serviço não deve ser mesclado com atividades fruitivas ou especulações filosóficas.”

   A pessoa que deseja devoção pura deve lembrar e recitar este verso todos os dias e tentar compreender seu significado. Esta prática é denominada sadhana-bhakti. Quando praticada através dos sentidos culminando na manifestação de sentimentos espirituais, é chamada de bhava-bhakti, e quando aprofunda ainda mais se converte em prema-bhakti. Dependendo do nível de cada devoto, pratica-se um destes níveis de bhakti. Um mestre espiritual que não experimenta sadhana-bhakti,bhava-bhakti e prema-bhakti não pode dar devoção, mesmo que externamente pareça um guru. Isto é dito não apenas no Srimad Bhagavatam, mas também nos Upanisads e no Caitanya Caritamrta. Devemos entender o seguinte princípio:

Tasmad gurum prapadyeta
Jijnasuh sreya uttamam
Sabde pare ca nisnatam
Brahmany upasamasrayam

Toda pessoa que deseja sinceramente a verdadeira felicidade, deve buscar por um mestre espiritual fidedigno e refugiar-se nele através da iniciação. O mestre espiritual deve ter compreensão das conclusões filosóficas das escrituras através da reflexão e deve ter a capacidade de convencer outros destas conclusões. Estas grandes personalidades, que se refugiaram no Senhor Supremo e abandonaram toda consideração material, são mestres espirituais genuínos.

                            (Srimad Bhagavatam- 11.3.21)

   Para alcançar a verdadeira devoção (bhakti) por Sri Krishna, ser verdadeiramente feliz e compreender quem são e como podem avançar nesta vida, devem dirigir-se á uma alma auto realizada escutar dele as conclusões sástricas. Tal mestre certamente os ajudará.
   Pode-se distinguir três sintomas em um mestre espiritual fidedigno. O primeiro é sabde. Sabdequer dizer que seu conhecimento dos Vedas, Upanisads, Srimad Bhagavatam etc... é perfeito. Mesmo assim, este conhecimento das escrituras e a habilidade de argumentar baseando-se neles são insuficientes para dizer que tal pessoa é um guru fidedigno. Se esta pessoa não experimenta Krishna, não está absorta em bhajana e sua bhakti não está muito desenvolvida, então não é um guru.
   O segundo sintoma é que ele está desapegado dos desejos mundanos. Estes primeiros dois sintomas são externos. O sintoma interno de um mestre espiritual genuíno é pare ca nisnatam brahmanyParambrahman é Krishna. O guru deve ter uma compreensão interna disto, porque se não poderá cair de sua posição. Deve estar absorto em bhajana, porque o conhecimento dos argumentos das escrituras não é suficiente para se previnir de uma eventual queda. Pode ser que alguém conheça todos os argumentos para fundamentar os pontos de vista das escrituras, e algumas vezes pratica serviço devocional, mas se não está desapegado de seus desejos e dos objetos materiais, ele cairá. A queda do mestre espiritual é algo muito sério que afetará o discípulo durante toda sua vida. Devemos por tanto, ser muito cuidadosos associando com devotos que não podem cair. O que Swamiji escreveu sobre isto? Escutem com atenção, pois é muito importante:

   Devoto: “Antes de qualquer coisa ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e de todos meus mestres espirituais instrutores.”

   Significado – “Em suas teses no Sri Bhakti-sandarbha (202), Srila Jiva Goswami declara que o objetivo dos vaishnavas é o serviço devocional puro, e que se deve executa-lo na associação com outros devotos. Por associar-se com os devotos do Senhor Krishna, a pessoa desenvolve um tipo especial de consciência que lhe faz ficar atraída pelo serviço amoroso ao Senhor. Tal é o processo de se aproximar do Senhor Supremo pela apreciação gradual do serviço devocional. Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos. (Cc. Adi 1.35)”

   Srila Narayana Maharaja: Sim. Reflitam profundamente sobre isto. Se vocês realmente desejam serviço devocional puro, devem procurar a associação com vaishnavas. De outro modo, terão asat-sanga, associação com materialistas. Sigam a linha de pensamento de Srila Swami Maharaja, tal como eu faço. Se alguém diz que não estou nessa mesma linha, ela mesma é que não está. Eu jamais digo algo diferente de Sri Chaitanya Mahaprabhu e Swamiji.
   Se desejam serviço devocional puro por Krishna, devem seguir de forma resoluta as diretrizes e instruções que foram mencionadas. Se, ao invés disso, eles preferem ganhar dinheiro e pensam que a associação com um vaishnava elevado é um obstáculo para suas aspirações, não se sentirão inclinados á seguirem suas instruções. Se desejarem ser como Prahlada Maharaja, devem meditar muito nas afirmações dos significados de Swamiji. Agora, lê de novo a última frase e depois siga adiante.

   Devoto: Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos de Krishna. Apenas através desta associação, a alma condicionada pode desenvolver gosto pelo amor transcendental e assim reviver sua relação eterna com Deus, com uma manifestação específica e com uma doçura de rasa transcendental particular que cada pessoa tem inerente em seu coração.

   Srila Narayana Maharaja: Se vocês seguem esta instrução de associar-se com devotos puros, Sri Krishna fornecerá tudo á vocês. Não tenham medo. Krishna criou vocês. Ele é o controlador Supremo, de modo que vocês não devem ter medo. Se alguém segue esta instrução, Krishna tomará conta de tudo e todos os seus problemas serão resolvidos.
Se desejam serviço devocional puro á Krishna, sejam fortes e determinados, e associem-se com vaishnavas elevados. Esta recomendação é tão importante que é dita três vezes:

Sadhu sanga sadhu sanga sarva sastre kaya
Lava matra sadhu sanga sarva siddhi haya

O veredito de todas as escrituras reveladas é que a associação com um devoto puro, mesmo que só por um instante, pode-se alcançar o êxito completo na vida espiritual.

(Cc. Madhya 22.54)

   O que este verso quer dizer? Que o serviço devocional puro pode ser obtido apenas com associação de devotos puros (sadhu sanga), e que esta instrução é nosso primeiro dever. Siga.

   Devoto: O segredo desta instrução é que se deve escutar submissamente da boca daqueles que conhecem perfeitamente a ciência de Deus e prestar o serviço indicado pelo mestre espiritual. O devoto que já se sente atraído pelo nome, forma, qualidades, etc.. do Senhor Supremo, pode ser guiado até a prática do serviço devocional segundo um sentimento específico; não é necessário que perca tempo tentando chegar á Deus através da lógica.

   Srila Narayana Maharaja: Sim. Não tentem alcançar Krishna através da lógica. A lógica por si só é insuficiente. Só é aceitável quando se trata da lógica relacionada ás escrituras como o Srimad Bhagavatam, o Sri Caitanya Caritamrta, e que está relacionada com a devoção, de outro modo ela não é aceitável.

   Devoto: O mestre espiritual é expert em ocupar o discípulo no serviço amoroso e transcendental ao Senhor, de acordo com sua tendência específica.

   Srila Narayana Maharaja: Um dos sintomas do mestre espiritual genuíno (tanto o instrutor quanto o iniciador) é que cada um dos seus discípulos sente um afeto tão profundo por seu Gurudev, que pensam que seu Sri-Guru o ama mais que todo mundo. Na presença do Sad-Guru, todos os vaishnavas, mesmo que não sejam seus discípulos diretos, sentem que este Guru o ama maisdo que todos os outros. Vi esta qualidade em meu Guru Maharaja e em Swamiji, e penso que muitos discípulos de Swamiji também experimentaram isto.
   Os discípulos de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada nos contaram que todo mundo, dos meninos até os adultos, todos pensavam: “Meu Guru Maharaja me ama muito.” Os discípulos experimentam isto no guru genuíno porque ele não deseja obter nada material deles. A única coisa que ele quer é residir em seus corações e injetar-lhes Krishna-prema. E se ele mesmo não experimenta Krishna-prema, é impossível que transmita á outros. O Guru nunca toma o coração do discípulo como sendo sua propriedade, mas o suaviza e o torna doce para oferece-lo ao casal divino Sri Sri Radha Krishna. Primeiro, o discípulo oferece seu coração aos pés de lótus de seu amado Guru, até que um dia este guru o situará nos pés de lótus de Rupa manjari. Ele o colocará nas mãos de Lalita e Visakha, e elas por sua vez o levarão aos pés de lótus de Srimati Radhika. Então, Srimati Radhika qualificará esta pessoa para servir Krishna e ela mesma.
   Se um mestre espiritual não possui estas características, o discípulo deve pedir-lhe humildemente que lhe permita associar-se com uma alma elevada. Sem inveja, e admitindo que ele não pode satisfazer seu discípulo, este mestre o aconselhará á se refugiar em vaishnavas do calibre de Srila Jiva Goswami, Srila Rupa Goswami e Narottama das Thakura. Ele não importará que seu discípulo se refugie em um vaishnava superior. Um guru alto realizado (sad-guru) não deseja ganâncias materiais. Syamananda Prabhu recebeu instruções de seu diksa guru Hrdaya Caitanya para que fosse até seva-kunja (Vrindavana) e se refugiasse nos pés de lótus de Srila Jiva Goswami. “Ele irá te preparar para servir Sri Sri Radha Krishna”. Srila Jiva Goswami aparentemente não tinha discípulos, mas na realidade ele instruiu todos os habitantes da terra. Este é o sintoma do mestre espiritual autêntico.

   Devoto: O devoto deve ter apenas um mestre espiritual iniciador, as escrituras proíbem aceitar mais de um, mas não há limite quanto ao número de mestres instrutores que se pode aceitar. No geral, um mestre espiritual que está sempre instruindo um discípulo na ciência espiritual, com o tempo se torna seu mestre iniciador.
   Deve-se recordar sempre que quem se nega á aceitar um mestre espiritual e á ser iniciado, se tornará totalmente frustrado em seus esforços para relacionar-se com Deus. Se alguém que não é devidamente iniciado se apresenta como um grande devoto, encontrará muitos e muitos obstáculos no seu caminho rumo á compreensão espiritual e finalmente, deverá continuar sua existência na vida material sem nenhum alívio. Se alguém possui o desejo de receber a benção de Sri Krishna, deve aceitar um mestre espiritual fidedigno.
   Se um devoto não tem a oportunidade de servir seu mestre espiritual diretamente, deve servi-lo lembrando seus passatempos. Não há nenhuma diferença entre seus passatempos e sua pessoa. Por tanto, na sua ausência, suas palavras e instruções devem ser o orgulho do discípulo. Se alguém pensa que não precisa se consultar com ninguém, incluindo um mestre espiritual, é um ofensor do Senhor e nunca voltará para Deus. Um aspirante sério deve aceitar um mestre espiritual seguindo as normas das escrituras. Srila Jiva Goswami aconselha á não se aceitar um mestre espiritual baseando-se em critérios hereditários, costumistas, sociais ou eclesiáticos. Para que haja um real avanço na compreensão espiritual, deve-se apenas encontrar um mestre espiritual que está verdadeiramente capacitado para tal.

   Srila Narayana Maharaja: Podemos ver que Swamiji é um seguidor de Jiva Goswami. É muito difícil ter um Guru tão elevado. É excepcional. Se por algum crédito piedoso aceitamos até mesmo um mestre espiritual neófito, através de algumas impressões criadas no nosso coração, em nossa próxima vida estaremos aptos á conhecer um guru genuíno. Como vamos descobrir se é um guru fidedigno? Rendendo-se aos pés de lótus do caitya-guru (Krishna, situado no coração) e orando á Ele. Ele reside no nosso coração e escutará nossa prece. Se alguém ora dizendo: “Ó Krishna! Desejo de coração ser teu servo. Por favor, conduza-me até os pés de lótus de um Guru genuíno.” Sem dúvida, Krishna arranjará tudo. E aqueles que não oram desta maneira, acreditando e confiando na própria capacidade para eleger e examinar um Guru, com certeza vai ter problemas na sua vida espiritual. Krishna diz:

Sarva-dharman  parityajya
Mam ekam saranam vraja
Aham tvam sarva-papebhyo
Moksayisyami ma sucah

Abandona toda classe de religião e apenas rende-te á min. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não se preocupe.
(Bg.18.66)

   Quando uma pessoa se rende sinceramente sem buscar por ganâncias materiais, Krishna arranja tudo pra que ele encontre um mestre espiritual. Se o aspirante comporta desta forma, receberá facilmente a misericórdia deste excepcional guru. Tudo depende de Krishna. Neste mundo é muito difícil encontrar um mestre espiritual genuíno, mas as escrituras dizem que é ainda mais difícil encontrar um discípulo genuíno capaz de se entregar completamente, tal como fizeram Arjuna ou Sudama Vipra com Krishna. Os Vedas, Upanisads e Puranas citam numerosos exemplos do guru ideal e do discípulo ideal. O exemplo mais elevado de rendição absoluta aos pés de lótus de Srila Rupa Goswami e Srila Sanatana é Srila Jiva Goswami. Quem é o mestre espiritual de Srila Sanatana Goswami e de Srila Rupa Goswami? Srila Rupa Goswami ora á Sri Caitanya Mahaprabhu na invocação auspiciosa (mangalacharana) em cada um dos seus livros, mas quando foi que Sri Caitanya Mahaprabhu iniciou Rupa e Sanatana Goswami? Temos dados ou lembranças de que foi celebrado algum sacrifício de fogo para suas iniciações ou de que eles ganharam algum mantra?   Sri Caitanya Mahaprabhu depositou tudo em seus corações, e eles também o aceitaram como seu guru em seus corações. Isto é muito importante, seguir Sri Gurudeva interna e externamente. Se entregarmos nosso coração de forma natural aos pés de lótus de um Vaishnava, significa que ele é nosso guru, tanto se nos dá mantras e faz um sacrifício de fogo, quanto se não faz nada disto. Estas coisas são externas e não são tão importantes como a rendição do coração. Srila Jiva Goswami deu vários exemplos disto em seus livros.
   Há duas classes de discípulos, consequentemente há dois tipos de iniciação (diksa). Uma está relacionada com a formalidade externa de realizar a cerimônia de fogo e dar os mantras gayatri. Mas não se deve pensar: “Me sacrifiquei muito. Raspei a cabeça e recebi meus mantras, então já fui iniciado.” Isto é apenas um aspecto externo. A iniciação formal é essencial, mas não é completa sem a iniciação interna na qual o discípulo entrega por completo seu coração aos pés de lótus de seu Guru sabendo que ele o capacitará á servir Sri Sri Radha e Krishna.
   O mestre espiritual dá ao discípulo todo o conhecimento transcendental (divya- jnana) referente á Verdade Absoluta (Krishna- tattva), ao mestre espiritual (Guru- tattva) e ao amor puro por Krishna (Prema-tattva), e também ensina o que é a energia ilusória (maya), na qual vemos o homem e a mulher como objetos de desfrute sensorial. Tal visão tem causado infinitos problemas nos matrimônios, sobre tudo nos países ocidentais. As pessoas se casam e divorciam várias vezes sem pensar em nenhum momento nos filhos. Matrimônio significa que o homem e a mulher devem permanecer juntos toda vida, os pequenos problemas não devem ser a causa do divórcio. O mestre espiritual instrui seus seguidores sobre o que fazer para desenvolver sua consciência de Krishna e lhes ensina a não ser apegados nem desapegados, sempre vendo á si próprio, filhos e esposa, como sendo servos de Krishna. O guru nos diz como devemos praticar bhakti e desenvolver nosso respeito, afeto e serviço á Krishna. Isto é divya-jnana. Por outro lado, Sri Guru destrói todas as nossas reações pecaminosas:

Divyam jnanam yato dadyat
Kuryat papasya sanksayam
Tasmat dikseti sa prokta
Desikais tattva-kovidaih

   Kuryat papasya sanksayam. A vida material não é mais que um acúmulo de problemas derivados do apego ás coisas mundanas. Na vida material a pessoa considera-se a desfrutadora e está cheia de luxúria, ira, cobiça, loucura, ilusão e inveja. Gurudeva destrói as quatro etapas do pecado.

1-                                               Prarabdha é o karma que deu fruto. Reações aos atos prévios que são a causa do sofrimento atual.
2-                                               Kuta bija são pecados que não foram cometidos ainda, mas o coração tem a tendência de cometê-los.
3-                                                Aprarabdha são as reações que frutificarão no nosso próximo corpo
4-                                                Avidya é a ignorância que faz com que uma pessoa tenha inveja de Krishna e se considere a desfrutadora. Esta é a raiz de todos os problemas.

    Se nosso diksa-guru não está capacitado para fazer isto por nós, devemos aceitar um siksa-guru mais avançado. Orem á Krishna e á Sri Gurudeva para que lhes ajudem a resolver seus problemas. Um guru genuíno lhes aconselhará a se refugiarem em vaishnavas avançados do calibre de Srila Jiva e Rupa Goswami e Narottama das Thakur. Se o guru sentir inveja dos discípulos que se associam com um siksa-guru, ou tem alguma oposição aos vaishnavas, o discípulo deve abandona-lo.

Sri-rupa, sanatana, bhatta-raghunatha
Sri jiva, gopala-bhatta, dasa-raghunatha
Ei chaya guru-siksa-guru ye amara
Tan sabará pada-padme koti namaskara

Os mestres espirituais instrutores são Srila Rupa Goswami, Srila Sanatana Goswami, Srila Bhatta Raghunatha Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Estes são meus seis mestres espirituais instrutores e assim sendo, ofereço milhões de respeitosas reverências aos seus pés de lótus.
(C.c. Adi 1.36-37)

Srila Krsnadas Kaviraja Goswami ora em primeiro lugar aos seus siksa-gurus. Nesta parte do Sri Caitanya Caritamrta ele explica muitas coisas sobre guru-tattva. Quem são seus siksa-gurus? Srila Rupa Goswami , Srila Sanatana Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami, Srila Raghunatha Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Aqui há algo que devemos considerar. Srila Krsna das Kaviraja não menciona o nome de seu diksa-guru. Ele tomou siksa diretamente de Rupa Goswami e de Raghunatha das Goswami e no final de cada capítulo ele oferece especiais reverências á eles. Alguns dizem que seu diksa-guru é Raghunatha Bhatta Goswami, mas eu não vi nenhuma prova de que isto esteja certo. Em nenhuma escritura li nada sobre a idêntidade de seu diksa-guru. Minha opinião é que ele tomou diksa quando ainda estava casado e foi viver em Vrindavana. Sem diksa, ele não poderia receber o nome “Krishnadasa”. Pelo motivo que seja, ele não revelou o nome de seu diksa-guru, se não que nomeou os seis Goswamis associados de Mahaprabhu como seus siksa-gurus. Em vraja-lila, a forma de Srila Rupa Goswami é Rupa Manjari, Srila Sanatana Goswami é Labanga Manjari, Srila Raghunatha Bhatta Goswami é Raga Manjari, Srila Jiva Goswami é Vilasa Manjari, Srila Gopala Bhatta é Guna Manjari e Srila Raghunatha Dasa é Rati Manjari. Todos eles possuem duas formas eternas, uma como associado de Krishna e outra como associado de Sri Chaitanya Mahaprabhu.
   O discípulo que tem uma associação direta com um siksa-guru genuíno, sem dúvida alguma se torna um discípulo genuíno. Srila Krishnadasa Kaviraja se sente orgulhoso de ser discípulo dos seis Goswamis. Tan sabara pada padme koti namaskara. Ele oferece inumeráveis reverências aos seus pés de lótus e ora á devotos como Srivasa Pandita, que nos passatempos de Krishna é Narada Muni.

Bhagavanera bhakta yate srivasadi pradhana
Tan sabara pada-padme sahasra pranama

   Entre os inumeráveis devotos do Senhor, Srivasa Thakura é o principal. Ofereço milhões de respeitosas reverências á seus pés de lótus.

(Cc.Adi 1.38)

   Existem duas classes de devotos: as almas auto realizadas e aqueles que praticam sadhana(sadhakas). Na sua vida anterior, Narada havia sido um sadhaka-bhakta, e logo se tornou um bhaktaauto realizado (premi bhakta). Aqui, Srila Krishna das Kaviraja Goswami refere-se á todos os bhaktas auto realizados: Svarupa Damodara, Ray Ramananda, Sikhi Mahiti, Madhavi-devi, Sarvabhauma Bhattacharya, etc. Há também os seis siksa-gurus proeminentes (os seis Goswamis) e todos eles são bhaktas auto realizados. Há também, as manifestações diretas do Senhor Supremo: Sri Advaita Acharya é a encarnação plenária de Maha-Vishnu e Sri Nityananda Prabhu é svarupa prakasa. Sri Gadadhara Pandita e Sri Jagadananda Pandita (os quais são Srimati Radhika e Srimati Satyabhama respectivamente) são saktis. “Por que então, Gadadhara Pandita tinha uma atitude tão respeitável e humilde para com Sri Chaitanya Mahaprabhu?” Além do mais, Ele era Srimati Radhika, a principal dentre as gopis que expressam livremente sua ira transcendental para com Krishna. A resposta é que Krishna, na forma de Sriman Mahaprabhu, roubou os sentimentos e a cor de Srimati Radhika, e Gadadhara Pandita simplesmente observava como mestre, para ter certeza de que Mahaprabhu desempenhava o papel de Srimati Radhika corretamente. Se Krishna, na forma de Sri Chaitanya Mahaprabhu, cometia algum erro, Sri Gadadhara Pandita lhe corrigia. Por exemplo, quando Sri Chaitanya Mahaprabhu encontrou-se pela primeira vez com Sri Nityananda Prabhu na casa de Nandanandanacharya, Sriman Mahaprabhu recitou chorando o seguinte verso do décimo canto do Srimad Bhagavatam:

Barhapidam nata-vara-vapuh karnakayoh karnikaram
Bibhrad vasah kanaka-kapisam vaijayantim ca malam
Randhran venor adhara-sudhayapurayan gopa-vrndair
Vrndaranyamsva-pada-ramanam pravisad gita-kirtih

As gopis começaram a ver Krishna dentro de suas mentes. Acompanhado de seus amigos pastorzinhos, Krishna entrou no encantador bosque de Vrindavana. Sua cabeça estava decorada com uma pena de pavão real, tinha flores karnikaras amarelas sobre suas orelhas, roupas amarelas cobriam seu corpo, e ao redor de seu pescoço estava uma charmosa e fragrante guirlanda vaijayanti.Sri Krishna mostrava seu aspecto supramente cativante como o melhor dos bailarinos. Com seus lábios nectários, tocava docemente sua flauta. Os pastorzinhos lhe seguiam cantando suas glórias, as quais purificam o mundo inteiro. Devido ás charmosas marcas deixadas por seus pés de lótus, o bosque de Vrindavana manifestou um esplendor ainda maior que Vaikuntha. (Bhag. 10.21.5)

   Sri Chaitanya Mahaprabhu descreveu a charmosa forma de Krishna, mas não pôde atuar da mesma forma que Srimati Radhika, quando ela recitou este mesmo verso. Foi por isto que quem recitou este verso por detrás da cortina, foi Gadadhara Pandit. Com os olhos cheios de lágrimas, ele interpretou o papel de Srimati Radhika de tal forma que derreteu o coração de todos. Sriman Mahaprabhu, que fazia então, o papel de Sri Radhika, compreendeu então que não havia interpretado corretamente. Depois de falar das outras manifestações de Krishna, Krishnadas Kaviraja Goswami explica que Sri Chaitanya Mahaprabhu é este mesmo Svayam Bhagavan Sri Krishna.

Sri krsna caitanya prabhu svayam bhagavan
Tanhara padaravinde ananta pranama
Savarane prabhure kariya namaskara
Ei chaya tenho yaiche kariye vicara

(Cc.Adi 1.42-43)

   Sri Chaitanya Mahaprabhu é a Personalidade de Deus; por tanto, prostro-me ilimitadas vezes aos seus pés de lótus. Após oferecer reverências ao Senhor e á todos os seus associados, explicarei agora estas seis diversidades em uma.
   Foi assim que Kaviraja Goswami descreveu as seis manifestações de Krishna:

Yadyapi amara guru – caitanyera dasa
Tathapi janiye ami tanhara prakasa

   Embora saiba que meu mestre espiritual é um servo de Sri Chaitanya, também sei que ele é a manifestação direta do Senhor.
                                                        (Cc. Adi. 1.44)

   Saksad dharitvena samasta-sastrair.  O significado profundo de hari-tvena é que o mestre espiritual possui as mesmas qualidade que Krishna, mas não é Krishna-visaya, e sim Krishna dasa. Sri Gurudeva é a personificação da misericórdia de Sri Krishna, mas é incorreto dizer que ele é Krishna-visaya.
   Até mesmo os karmis, os jnanis e os tapasvis, consideram que o guru não é diferente de de Sri Krishna; mas não devemos ter a errada concepção de que o Guru é Deus. Em sânscrito tal suposição é denominada de aropa. É errado supor que o irreal seja o real. Não é correto por exemplo, dizer que uma árvore de manga recém plantada dá frutos doces, e sim que os dará no seu devido tempo.
   Porém, quando se trata do desenvolvimento de nossa bhakti, é essencial praticar aropa.Tecnicamente isto recebe o nome de aropa- siddha- bhakti. A deidade não é diferente de Krishna, é o próprio Krishna. No nosso atual estado condicionado, vemos a deidade como uma estátua de pedra, mas supõe-se que ela é o próprio Krishna. Não podemos servi-la como se ela fosse o próprio Krishna, mas a medida que nosso amor por ela aumenta, perceberemos a deidade da maneira que Sri Chaitanya Mahaprabhu percebia: saksad vrajendra nandana vigraha (a forma pessoal direta de Vrajendra-nandana). A deidade nos revelará sua verdadeira natureza.